"A cidade que o velho me ensinou a ver não era esta em que me mexo. A dele tinha gentes e ruas, árvores, conduções coletivas, idas ao mercado municipal à beirada do Tamanduateí. A minha, agora, fechada entre quatro paredes. Sempre. Passo do hotel para um carro e daí toco para um coquetel num salão; depois, as paredes de uma secretaria ou redação. Nessas quatro, grupelhos proliferam. Bebericam, conspiram, politicam, fechados em si, armando campanhas, cinismos e mordomias. Golpes, rasteirices.
Minha cidade de meu pai não chegava pelos brilharecos publicitários de um folheto que leio profissionalmente, com nojo. Nunca o pai gabou a Praça da República, falando de uma arte que ela não tem."
(Do conto "Abraçado ao meu rancor", do livro homônimo, publicado pela Editora Guanabara.)
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