terça-feira, 5 de novembro de 2013

Peripécias da alma

Às vezes até a alma dá vexames. Expõe-se, mostra-se, descabela-se, arma barracos como uma puta que deu três vezes e não recebeu o michê. Quando está assim, melhor não mexer com ela. Deixá-la gritar todos os gritos. A alma também tem os seus dias, aqueles em que o absorvente íntimo (um em um milhão) deixa escorrer pelas pernas um fiozinho que de repente, quando ela percebe, já fez uma trilha e colore de grená a saia clara. Nesses dias, melhor nem olhar para ela. Mas, quando passam os cinco minutos, ela volta a ser alma e, se julgar ouvir um acorde da Pavana de Ravel, abraçará o primeiro transeunte e chorará sobre o seu ombro. E dará contribuições aos médicos sem fronteiras, às casas andré luiz e aos meninos de rua. E se deitará de graça com um mendigo que não vê mulher desde o plano cruzado. Assim é a alma. Pode debater-se como uma galinha fugindo do cutelo, mas em geral se deixa abater placidamente, sem escândalo. Ah, a alma.

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