quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Uma coisa é certa

Uma é coisa é certa. Enquanto os outros preparam tudo para a viagem, continuaremos respirando. Já é bastante, para nós. Não nos encantam, mais, promessas nem perspectivas. O sol já nos contou todas as suas mentiras. São, ainda, as mesmas que nos contou quando éramos meninos. O mar ameaçou, também quando éramos meninos, levar-nos para um passeio inesquecível. Mas recuou, não insistiu, não fez questão de nós quando apareceram os primeiros braços salvadores. Não confiamos mais nele nem em suas ondas. Respiraremos aqui, de longe. É, afinal, o que sempre quisemos. Ficar longe do bulício, das exclamações de alegria. Lutamos por isso a vida inteira. Como Pessoa, afastamos com tapas todas as mãos que tocaram nossos ombros. Quisemos a solidão para a nossa alma, e desde cedo ela se comportou como lhe pedimos. Nossa alma não tem calção de banho, não sabe nadar nem boiar. Nossa alma diz que não gosta de algodão-doce, porque nós lhe ensinamos que era isso que deveria dizer. Nossa alma se recolherá nestes dias e nós a submeteremos mais uma vez aos Noturnos de Chopin, para que não cheguem aos seus ouvidos os gritos de júbilo que vêm da praia, o barulho da bola colorida caindo na areia depois de tentar chegar ao sol. Não tenham pena. Nossa alma está acostumada.

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