"Sou como aquele que durante muito tempo aguardou,
Perscrutando com agudo olhar o tempestuoso mar,
Algures, num promontório, observando as velas,
Como se procurasse entre todos os barcos o último, o esperado;
E vela após vela, o seu coração incendiado de alegria,
Apagava-se cruelmente, até que um dia
Um barco, com a ansiada bandeira no seu mastro,
Surgiu vivamente e em porto firme ancorou;
Mas não, a amada não vinha, tinha morrido.
Ele não voltará ao promontório; já não voltará a ver o mar
Com incontáveis veleiros, vela após vela, confundindo
Os seus olhos e troçando da sua espera. Fatigada cabeça,
Descansa agora; fecha os olhos; pois nunca mais
Alimentarei esperanças, nem me afligirá a angústia.
Por amor assim esperei; e por amor
Ansiosamente retesei os meus sentidos e esperei;
Esperei por ela, ensaiando a minha canção;
Até que nos distantes céus de chumbo
Uma ave dourada esvoaçou ao longe e fugiu
Sem rumo sobre a água diante de mim;
E com as mãos estendidas vi a resplandecente ave que fugia
E esperei, até cair morta aos meus pés.
Ó dourada ave destes céus de bruma
Quanto tempo procurei, com os meus olhos cansados,
Procurei, ó pássaro, a promessa do teu voo!
Mas já amanheceu, a manhã já morreu,
O dia veio e partiu; e uma vez mais eis a noite
Sobre a minha vida solitária, imensa e livre."
(De Poemas de Robert Louis Stevenson, tradução de José Agostinho Baptista, publicação da Assírio & Alvim, Lisboa.)
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