Não era dessas flores
que eu falava
dessas que se compram
numa lojinha ou num bazar
que de água não precisam
e nenhum inseto virá molestar
Não era dessas flores
que com uma atenção normal
quinzenal ou mensal
tirando-se um pozinho aqui
e outro pozinho ali
como se tira dos bibelôs
podem adornar a sala
na primeira comunhão
do menino bem-comportado
e continuar a adorná-la
na sua festa de noivado
Não era dessas flores
que eu falava
assim como não era
desses amores artificiais
que se pautam por agendas
por horóscopos
por encontros ocasionais
e pelo suposto bem que o sexo faz
aos humores corporais
Eu pensava
em algo um tantinho melhor
em algo que tivesse
algum nome e conceito
melhor que cópula carnal
e que por sua beleza
mantivesse a alma em febre
como em febre a minha se manteve
Eu pensava em algo
que não se envergonhasse
das palavras sangue seiva
deslumbramento paixão
e que não se importasse
em confessar que obedecia
à voz daquilo que no peito bate
e alguns ainda chamam de coração
Não sabia que isso
em que pensava
em todas as horas da noite
e também em todas as horas do dia
me levaria à inquisição
e que um juiz novinho
depois de me acusar
de perverter a juventude
me condenaria
a dez anos de zombaria
e mais cinco de execração
e que em ato público queimaria
meus livros de poesia
e com severidade me indicaria
como parte da reabilitação
um curso de putaria
e outro de musculação
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
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