terça-feira, 16 de abril de 2013

Ele não soube envelhecer

Ele não soube envelhecer e, quando vê os jovens do colégio se beijando na rua, se sente lesado. Ele não soube envelhecer e, quando se lembra de certas ruas do centro que qualquer rapaz no cio encontrava pelo cheiro que vinha delas, tem vontade de chorar. Ele sente falta daqueles cabarés, daquelas mulheres tentando imitar danças parisienses, dos hotelecos de placas balouçantes, dos elevadores lentos, das escadas de degraus arruinados, dos quartos fedendo a sexo. Ele gostaria de andar novamente por aquelas ruas, com o coração aos pinotes, como um potro jovem. Não sabe se tem inveja ou pena dos velhos que se espiritualizam. Cada um que pense como quiser. Ele, numa hora como esta, estaria feliz se pudesse acompanhar os passos de uma mulher escandalosamente pintada que o levasse cada vez mais para dentro da noite, o impregnasse de perfume barato e o fizesse sentir-se pecador quando, chegando em casa, mentisse ao pai e à mãe, com uma desculpa soprada pelo Demônio.

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