quarta-feira, 3 de abril de 2013
Quando o amarelo...
... do msn pisca, ele imagina quem estará falando com ela, e se sente como alguém que, não encontrando vaga no albergue do Glicério, vai a pé até o centro de recolhimento da Lapa e lhe dizem que ele chegou tarde demais. Um cheiro de sopa vem lá de dentro, e chegam até ele vozes alegres, ruidosas. As colheres tocando nos pratos compõem uma música que há muito ele não ouve. Insiste, mas o homem diz que é impossível, tudo ali é bem organizado, com a distribuição certa de calorias, calculadas pela nutricionista, essas coisas todas. Se quiser, pode voltar amanhã, para o almoço. Mas que chegue às dez, para ter certeza. Diz também que, se ele estiver com muita fome, o albergue do Glicério oferece café da manhã. Acha cruel o homem ter perguntado se ele está com muita fome. Senta-se no chão, sem forças. O homem pede que ele não fique ali, podem dizer que estão negando comida, justamente eles que servem, entre o almoço e o jantar, duzentos pratos de sopa. Ele anda uns metros, senta-se na esquina. Quando o amarelo do msn pisca, ele se sente como esse homem, sentado no chão perto de um albergue cuja comida acabou.
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