sexta-feira, 14 de junho de 2013

O direito de matar

Ontem, uma garota do colégio em que fui bater um papo sobre leitura e literatura me perguntou por que resolvi matar um personagem de certo livro meu. Ela destacou bem o verbo, e a resolução de matar assim um homem, ainda que na ficção, foi recebida pela turma com gargalhadas, se bem que alguns alunos me encarassem já com um início de desaprovação. Esse não foi o primeiro homem que matei em minha ficção. Do primeiro eu dei cabo em um livro de contos para adultos. Lembro-me bem dos sentimentos que me tomaram quando, com a minha cruel canetinha Bic, exterminei essa "vítima". Foi estranho, desagradável, mas eu, como tantos matadores, reais ou não, me desculpei com o pretexto de que era uma morte necessária. Quem escreve ficção acaba criando afeto aos personagens (ou desafeição também, em alguns casos, principalmente quando se trata daqueles que emperram a trama). Matei poucos personagens, acredito, até porque a maioria dos meus livros para adultos permanece virgem no arquivo do micro. Creio, embora não tenha feito uma estatística, que, nos doze ou treze juvenis publicados, não me excedi em matanças. As vítimas maiores sempre foram os leitores, mas eles, com a generosidade própria da idade, parecem ter me absolvido (naturalmente só aqueles que não matei de tédio).

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