segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sérgio Milliet, um parágrafo

"Yvonne parecia-me então a mais ambicionável das criaturas. Era uma menina decidida, de olhos azuis e frios, boca sensual, palavra fácil e fustigante. Nosso namoro mais se assemelhava a um duelo, de que saí ferido mais de uma vez. Tudo fiz para tê-la, inutilmente, ou por inexperiência ou talvez por carência de desejo profundo. Vinte anos mais tarde, cientista especializada em doenças tropicais, andou ela pelo Brasil e nos encontramos por acaso certa tarde. De comovido, não cheguei a oferecer-lhe um chá; o capítulo encerrava-se definitivamente e, na mulher bonita que me sorria, não vi sequer uma mulher desejável. No entanto, por ela eu quisera morrer, com ela aprendera a chorar."

(Do livro Melhores crônicas, seleção de Regina Salgado Campos, publicado pela Editora Global.)

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