domingo, 9 de junho de 2013

No jornal - Tamer, Appy

Vai mal a economia, no mundo todo, e nem é novidade. Novidade é a economia ir bem. Lembro-me de uma frase que ouvi muito na infância e soava como um lema: a economia é a base da porcaria. Mas não é dessa economia de bolsas, debêntures e commodities que eu quero falar. A grande perda que sofreu a economia nesta semana foi uma perda jornalística, humana. Foram-se primeiro Alberto Tamer e, logo em seguida, Robert Appy, que, numa época na qual não havia na imprensa especialistas da matéria, analisavam para os leitores do Estadão as complicações dessa ciência ou arte que nada têm feito a não ser complicarem-se ainda mais, dia a dia. Lembro-me deles e creio poder dizer que a afabilidade era o principal traço dos dois. Eram homens cordiais, afetuosos, e já isso seria, pela raridade atual desses sentimentos, o bastante para merecerem a admiração com que foram lembrados esta semana. Mas os dois foram muito mais que cordiais e afetuosos. Pioneiros, num tempo em que a economia não tinha na imprensa cadernos específicos nem publicações especializadas, são hoje indispensável referência para os estudiosos. Já que de economia se trata, talvez a palavra que melhor caiba ao se mencionarem essas duas perdas seja prejuízo. Ou, como diz o irretocável lugar-comum, prejuízo irreparável. Vão-se indo, um a um, os que representaram uma época de ouro no Estado. A maioria daqueles que povoaram com seu talento e humanidade a Major Quedinho e a Caetano Álvares vive agora na lembrança, em fotos e em citações. Sob esse aspecto, o livro Retrato de uma redação, de Patricia Maria Mesquita, será sempre uma notável fonte para qualquer tentativa de reconstituição desse tempo.

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