sábado, 10 de agosto de 2013

O estilo em J.M. Coetzee

O que mais me impressiona em J.M. Coetzee é a simplicidade do seu estilo. Nada de períodos longos, cheios de conjunções coordenativas e subordinativas. Nada de portantos nem de porquantos. Nenhum esforço para adornar as frases. Fulano é, Fulano ri, Fulano sofre, Fulano vive. Faz-me lembrar o modo como aprendi a escrever as primeiras frases no colégio. Havia algumas gravuras simples, quase toscas, que a professora do primário pendurava no quadro-negro. A de que me recordo mais claramente era uma em que se via uma pequena casa com um jardinzinho, um menino e um cachorro. Pegávamos o lápis (Johann Faber nº 2) e dizíamos o que víamos na gravura. Era o que se chamava de descrição. Mais ou menos assim: Eu vejo a casa. A casa é do menino. A casa do menino é bonita. Eu vejo o cachorro. O cachorro é do menino. O cachorro do menino é bonito. E assim por diante. O estilo de Coetzee é semelhante, linear, e não é difícil imaginar que ele, como outros grandes escritores, usou o processo de acumulação, passou para o de assimilação e finalmente para o de despojamento. Sobra o essencial, o melhor. Ler Coetzee é descobrir que a literatura não precisa de bijuterias nem de penduricalhos.

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