"Mas, entre os eleitos, o martírio é sempre uma possibilidade; e ser artista não é bem uma escolha - o Deus da Arte escolhe a pessoa e não o inverso. Portanto, a vocação artística tem uma aura de tragédia e danação. 'Nós, poetas na juventude, começamos alegres' disse Wordsworth, 'mas depois vem o fim, o desânimo e a loucura.' Consideremos o conto de Franz Kafka A Fasting-Artist (Um artista jejuante). O artista dedica-se inteiramente à sua arte. Esta arte é grotesca; o artista mora em uma jaula e morre de fome - como fazia antigamente um cristão asceta em mortificação -, e, de início, ele é muito popular; multidões acorrem para admirá-lo. Então a moda muda - ao tempo de Kafka, a moda da arte por amor à arte estava perdendo terreno - e o artista jejuante acaba a um canto, abandonado entre os animais circenses, e as pessoas esquecem que ele está enjaulado. Finalmente, ao mexerem na palha podre elas o redescobrem, mais morto do que vivo."
(Do livro Negociando com os mortos, tradução de Lia Wyler, publicado pela Rocco.)
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