quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O sonho de ver o mar

Ele jamais quis muito. Talvez jamais tenha querido nada além de contemplar, ver, fitar. Já lhe faltavam a audácia para a abordagem e os instrumentos para consumá-la. Lhe bastaria ver o navio subindo e descendo graciosamente as ondas. Não encarava senão como sonho impossível pendurar-se na amurada, subir ao convés, deitar-se numa espreguiçadeira, dar-se ares de passageiro preferencial. Gostaria de ficar vendo o mar, apenas, dando a falsa impressão de que, se lhe exigissem algo, ele poderia mostrar-se digno. Quando foi à companhia, negaram-se a vender-lhe a passagem. Sonhará até o último dia com as gaivotas, com as baleias no horizonte, com a lua descendo para um mergulho rápido.

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