Os bibelôs não contarão
a camponesa
por ser discreta
o burrico
por só saber zurrar
a girafa
porque olha só para cima
o cego
por não enxergar
o poeta
porque poetas
por assuntos comezinhos
não costumam se interessar
Nenhum deles dirá
que o homem no chão
foi morto por um golpe
do vaso de cobre
empunhado pela mão
que sem falhar dia algum
passa um pano
em todos eles e
em cada um
Mesmo o vaso
se interrogado
apesar dos dedos
nele marcados
dirá que não
que não viu nada
Esta é a sala da casa
de uma família aristocrática
e aos bibelôs cabe
também comportar-se
A porcelana é frágil
e todos sabem
que um engano da mão
ou um mau humor do pano
podem fazer de repente
até o mais resistente
espatifar-se.
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