sábado, 16 de novembro de 2013
O artista e a sociedade
Um artigo de hoje da professora Berta Waldman no Estadão, sobre Dalton Trevisan, avivou algumas ideias que tenho sobre as relações do artista com a sociedade. Não creio que o artista deva trabalhar para o aprimoramento dela, nem pela sua dignidade. O artista, se falar com a voz do publicista e desandar a fazer manifestos, deverá fazê-lo por vontade própria, jamais como instrumento. Uma literatura fundada em boas intenções geralmente dá com a carroça e os burros na água. Pode render comendas, recebidas ao som de hinos, mas certamente será maçante (e inútil) para os leitores. Se Pedro, no primeiro capítulo de um romance, sacrificar dez cordeiros em nome do Senhor, e no segundo imolar vinte, e assim por diante, o leitor se dispensará de ler os capítulos intermediários e irá direto ao último, para saber se Pedro matou duzentos ou duzentos e vinte. A literatura (a arte, de um modo geral) não é um conjunto de preceitos éticos, religiosos ou morais. Ela é o que o contista, o novelista, o romancista, o poeta veem. Cada um tem a sua visão e, se no conto, novela ou romance se expuser a luxúria, o masoquismo, o sadismo, é porque a luxúria, o masoquismo e o sadismo são tão humanos quanto a bondade, a magnanimidade e a generosidade.
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