segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Haveremos

Haveremos de ser corteses até o fim. Bom dia, desejaremos aos da nossa calçada, e aos da outra, e boa tarde diremos quando for o caso. Sorriremos, ainda que nos custe muito, ainda que a alma nos acuse de falsidade. Carregamos a morte no peito, mas é preciso que, quando perguntarmos ao vizinho como vão os filhos, ele não suspeite. Nossas pernas hão de se mover como se o nosso sofrimento pesasse não mais do que uma pluma. É triste, isso. Devemos esconder nosso sofrimento, nosso único orgulho, para que não nos acusem de empáfia. Acharemos boas todas as piadas no caminho, riremos tanto que nossas gargalhadas derrubarão passarinhos jovens das árvores. Depois desses momentos sociais, voltaremos para casa e, no sofá, poderemos ver então como tudo fica diferente, e mais belo, visto por dois olhos cheios de lágrimas.

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