segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Meu diário
Acordei hoje com um desejo que havia muito não tinha: estar doente e precisando de cuidados. Cheguei a pôr o termômetro, na esperança de uma febre. Olhei-me no espelho, mas meu rosto não se mostrou mais devastado que na véspera. Concentrei-me um pouco mais. Onde estava aquele meu dom de invocar infortúnios? Deitei-me no sofá e me cobri até o pescoço, para compor a clássica figura do doente. Tiritei e gemi com a maior convicção, disse ai meu Deus do céu, mas não houve meio de me sentir tão mal quanto queria. Desisti, afinal, com uma frustração imensa. Que saudade daqueles meses em que, menino e perigosamente enfermo, entre uma e outra dolorosa injeção de penicilina eu era tratado como um pequeno príncipe e tinha, como especial privilégio, o de pedir que me comprasem outro livro, assim que acabava um. Que vontade de ouvir de novo o retinir das espadas dos quatro três mosqueteiros, as frenéticas imprecações dos piratas nas sangrentas abordagens e os gritos de Tarzan ecoando na selva.
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