"O que une mais que o sexo, o que é mais forte que a atração abissal exercida pela carne? A dor, talvez: a agressão compartilhada. E o carinho que às vezes emerge da superação das agressões. O casal atípico formado pelo genial escritor de romance noir Dashiell Hammett e pela dramaturga Lillian Hellmann foi construído sobre o sofrimento e a ternura. Sua relação durou três décadas, ainda que na realidade tenham convivido pouco e além disso tenham tido outros amantes. Ela viveu quinze anos a mais que Dashiell, e nesse tempo inventou retrospectivamente, em suas memórias, uma história de amor luminosa e esplêndida. Não foi assim, mas sem dúvida a relação era tão profunda que só a morte pôde romper o vínculo. Suponho que aquilo que os unia (a melancolia, o desejo e a impossibilidade de se quererem bem, a necessidade, a frustração) é o que comumente chamamos de amor."
(Do livro Paixões, tradução de Maria Alzira Brum Lemos e Ari Roitman.)
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