"Fitou seus olhos, sua boca, o nascimento de seus seios e - lembrou. Gostava de lembrar. Lembrar era o melhor de tudo. Às vezes acreditava que as coisas não lhe interessavam mais do que para poder lembrá-las depois. Como isto: exatamente este momento: os olhos, os largos cílios, a cor amarela de azeite de seus olhos, a luz refletida na toalha da mesa que tocava seu rosto, seus olhos, seus lábios: as palavras que saíam deles, o tom, o som baixo e acariciador de sua voz, seus dentes, a língua que às vezes chegava até a borda da boca e se retirava rápida; o murmúrio da chuva, o tilintar das taças, dos pratos, dos talheres, uma música distante, irreconhecível, que chegava de parte alguma: a fumaça do charuto: o ar úmido e fresco que vinha do parque: apaixonava-lhe a ideia de saber como recordaria exatamente este momento."
(Do livro Delito por dançar o chá-chá-chá, traduzido por Floriano Martins e publicado pela Ediouro.)
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