terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Meu diário
Não sei como me classificaria um psicanalista, mas é provável que me considerasse digno de pelo menos meia dúzia daqueles distúrbios que requerem medicamentos de tarja preta. E, se ele não fizesse isso, eu me sentiria frustrado. Desde menino, sempre quis ser doente - e não um doente comum, mas um graduado. Entre ser triste e ser alegre, preferi sempre ser muito triste. Estar triste é minha alegria, e eu sempre me esforcei para obtê-la. Sou um tardio e obstinado fruto da leitura dos poetas românticos. Para eles, sofrer era a glória mais desejada, e morrer aos vinte e um anos, nos braços da amada, era a suprema aspiração. Eles sofreram, morreram aos vinte e um. Eu, inábil discípulo, caminho já pelo meio da sétima década e, quando leio os índices de expectativa de vida, receio que precise ainda lutar por muitos anos para manter esta tristeza morna e aguada dos que não merecem tristeza maior.
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