segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Meu diário
Ter escrito pouco e mal, ontem, não foi a pior coisa que fiz. Para quem vai morrer sem ter lido tantos escritores indispensáveis, o tempo perdido com a minha escrevinhação é que me atormenta. Na época (século passado, milênio passado) em que pus na cabeça a extravagante ideia de me tornar escritor, havia uma forma delicada de dizer que alguém era medíocre: dizia-se que era esforçado. Tenho sido isso - esforçado - em todas essas décadas. Houve tempo de sobra para perceber que a minha vocação, assim como a mentira, tinha pernas curtas e, se ela me permitia algum sonho, era o de chegar até a esquina - se a esquina não ficasse muito longe. Almejar o horizonte, como almejei, foi a catástrofe da minha vida. Tanto tempo depois, continuo esforçado, nada mais, e a única virtude que os leitores encontrarão em mim, se resolverem me acompanhar, é a de que não os cansarei: chegar à esquina continua sendo a minha mais arrojada aventura.
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