sábado, 2 de fevereiro de 2013
Abstinência
O garotão aproxima-se da mulher que, sentada num dos degraus da igreja, estende o chapéu. Ele olha as moedas e sorri: "Oi, vó." "Oi, você aqui?" "É, eu estava passando e..." A avó nota o olhar comprido dele para o chapéu: "Está precisando?" Ele faz uma cara triste: "É, vó, aquele emprego não sai nunca." "Leva um pouco daqui." "Ai, vó, não sei. Tá bom, só um pouquinho." Enfia a mão no chapéu e a enche de moedas: "Bom, eu tou indo, vó. Valeu." "Vai com Deus." Ele pega o metrô e quinze minutos depois está na Luz. Olha em duas esquinas, na terceira encontra a garota com as pernas e os seios oferecidos a quem passa: "Oi, Deise." "Oi, irmão. Algum problema?" "É, o de sempre." "Você precisa parar com a droga." "É, eu sei. Você também, né? Tem grana aí?" "De novo? Você nem pagou o outro." "Pagar de que jeito? O emprego não sai." Ela abre a bolsinha e passa uma nota ao irmão: "Pega aí. E vai embora, senão eu não consigo pegar um freguês. Um abraço lá em casa." "Legal, Deise. Bom serviço aí." Ele sai andando rápido. Mais uma hora sem droga, ele morre.
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