"Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vosos olhos belos,
Se não perder a vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.
Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso;
E o proveito disso eu só o levo.*
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo."
(*) Presumo que a esse verso falte uma palavra, porque, como está, ele não é um decassílabo perfeito. Não disponho de outra edição. Se algum dos leitores tiver alguma informação sobre isso, queira, por favor, dá-la.
(De Obra completa, Companhia Aguilar Editora.)
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