Um homem como eu, cativo havia tempo demais de uma paixão destruidora, continua no rumo que sua razão lhe diz ser errado, mesmo sabendo que ali só encontrará mais desgosto; com o tempo, verá com uma clareza cada vez maior o quanto seu caminho estava errado. Em situações assim, ocorre um fenômeno interessante e raramente assinalado: mesmo em nossos piores dias, a razão não para de falar conosco; ainda que sobrepujada pela força da nossa paixão, continua a sussurrar, com uma franqueza impiedosa, que nossos atos só servem para acentuar nossa paixão, e portanto nossa dor.
(Do romance O museu da inocência, tradução de Sergio Flaksman, publicado pela Companhia das Letras.)
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