quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

No jornal (Caetano Álvares) - 4 - Julinho

Hoje não sei quantos são. Dezenas, certamente. Mas em 1978, quando ocorreu o episódio, havia só um televisor na redação, instalado na editoria de esportes. Era a noite de decisão do campeonato paulista, entre São Paulo e Santos. Julinho Mesquita, um dos donos do jornal, torcedor do Santos, acompanhava o jogo com aflição. Andava de um lado para outro, gesticulava, empenhava-se, transpirava. Seu rosto estava afogueado, parecia que ia estourar de vermelhidão. Para deixá-lo ainda mais nervoso, o jogo terminou empatado e foi para a prorrogação. Novo empate favorecia o Santos, dava-lhe o título. Os trinta minutos finais foram naturalmente um suplício que Julinho foi suportando com estoicismo. O cronômetro do juiz dava a impressão de ter parado. Julinho, então, decidiu intervir. Aproximou-se mais da tevê, ergueu o dedo para ela e exigiu: "Acabou, juiz, acabou." Alguns redatores sorriram e um são-paulino fez um gracejo: "Olha só, ele quer mandar no jogo." O que estava ao lado disse: "Deixa. Ele é o dono da televisão." E acrescentou: "E do jornal também." Por essa pressão ou porque assim estava escrito, o Santos ganhou o campeonato. Anos depois, em 1984, na disputa de outro título paulista, entre Corinthians e Santos, Julinho e eu fizemos uma aposta. O Corinthians perdeu o jogo, eu perdi a aposta. Lembro que alguém comentou: "Você é maluco ou o quê? Já viu alguma vez um empregado ganhar uma parada de um patrão?"

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