segunda-feira, 3 de junho de 2013

Boa tarde

Para uma tristeza ser perfeita, precisaria ter, trazidas pelo vento de um fim de tarde, algumas notas da Pavana para uma infanta defunta, aquelas mais pungentes, as mais lancinantes, as mais agudas, as mais cortantes (se é que há, nessa obra de Ravel, uma nota que não seja isso, um belíssimo estraçalhamento da alma). Que magnífica é a tristeza quando atinge essa dimensão que os grandes artistas conseguem lhe dar. Um dia pensei em dedicar a minha vida ao amor. Acabou não sendo uma escolha errada, mas hoje eu optaria diretamente pela tristeza, sem essa intermediação do amor. Belo é o amor, o irrealizado, aquele que nos atira à frustração, à aflição e às lágrimas. Os amores que levam ao bufê são uma impostura. Aquele de que costumo me ocupar deveria ter outro nome. Não é paixão, nem paixão louca, nem paixão insana. Está para ser inventada a palavra que definirá esse sentimento, essa espécie de amor que desde o início tem na derrota o seu objetivo e na desesperança a sua exultação.

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