segunda-feira, 3 de junho de 2013

Dores da alma

A alma dói, como não? Dói não como dói o corpo com seus insignificantes órgãos, esses canastrões que se põem a berrar sob qualquer pretexto ou sob pretexto nenhum. Joelhos, braços, pernas doem, mas o que são joelhos, o que são braços, o que são pernas, o que é o baço, o que é o fígado, o que é um rim diante da alma? Não faço pouco de quem sofre com a dor desses pedaços de carne, de osso e de pele que constituem nosso corpo. Mas nenhuma dor há de se comparar com a dor da alma ferida por uma lembrança de amor, numa tarde fria e chuvosa. Que remédio haverá para ela, que pomada, que comprimido milagroso? O coração, antigo impostor, às vezes quer assumir essas dores da alma. E chegamos a acreditar que ele é que dói, ele e aquela região próxima do estômago que nessas ocasiões é tomada por uma sensação de vazio. Não, não é ali que fica a alma. Nem nos olhos, que para chamar a atenção logo se transformam em fontes de lágrimas. Não sabemos em que ponto de nós está a alma. Sabemos que ela dói, que ela dói sem trégua. E sabemos que esse doer da alma é o que de melhor e mais belo pode acontecer a um homem.

2 comentários:

  1. Essa dor voraz que ataca quando menos se espera...

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  2. Pois é, Ivna. Essa dor que vamos descobrindo ser nossa maior e talvez única riqueza.

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