sábado, 22 de junho de 2013
Do trabalho e da arte
Às vezes lhe vêm ideias perturbadoras. Como esta: a da mediocridade quase abjeta da velha e louvada crença no trabalho como única forma decente de sucesso e de conquista. Pensando nisso, seu estômago se contorceu agora, logo cedo, nem tanto pela aversão que lhe causa essa fórmula, mas pela expressão bovinamente triunfal dos que a advogam, como se tudo mais fosse abominável. Talvez sua rejeição se deva a uma deturpação provocada pela sua "educação artística". Parece-lhe intolerável ver num verdadeiro artista o resultado apenas de um labor obstinado. Ele sente a necessidade de valorizar, de dar importância igual, ou maior, a variáveis como o acaso, ou a insanidade. Pode-se dizer que a genialidade de Van Gogh foi fruto do seu trabalho? Sempre gostou de achar que o artista é um eleito. Alguém gabar-se pelo resultado que atingiu com seu trabalho, e só com ele, soa-lhe como uma insuportável arrogância.
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