domingo, 2 de junho de 2013
Dos atributos da ficção
É comum um rapaz ou uma garota aparecerem com um romance e alguém comentar que melhor seria se eles se dedicassem a uma leitura mais séria. A ficção é tida por muitos como mero entretenimento, algo com que apenas se desperdiça tempo. Henry James dizia que se um texto se propõe falar do ser humano e de suas paixões, não há como chamá-lo de inútil, por mais tosco que seja o escritor. A literatura seria, numa comparação com o futebol na tevê, uma espécie de reprise dos melhores momentos: nas duzentas ou trezentas páginas de um romance, ou nas vinte ou trinta de um conto, a síntese da vida de um homem, de uma família, de uma nação, da humanidade. Outra restrição que se costuma fazer à literatura é a de que ela não retrataria a realidade, mas a fantasiaria. Ela, na verdade, realça, dá mais vida à vida. E vida, aqui, não é sinônimo de brilho, mas de luz. A literatura não é um holofote, é uma lanterna de escoteiro. Ela clareia, facilita a visão de um objeto, não exagera sua cor - assim como dá à treva seu tom exato.
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