domingo, 16 de junho de 2013
O amor é meu...
... empresário. Ele me diz que o público aprecia muito quando eu, com este rosto desgracioso e esta voz de pregoeiro fúnebre, vou ao palco e leio meus poemas. Ele me assegura que, quando são meus os poemas que declamo, o público se encanta ainda mais. Eu pretendia ler um soneto de Camões uma noite dessas, mas ele me demoveu da ideia: "Camões? Quem é Camões? O que eles querem é Drewnick. Aquele poema em que você rima Bósforo com fósforo. E aquele outro, do cisne que, por amor, morre afogado." E lá vou eu, e leio, e declamo, e no final aquilo de sempre: os espectadores rindo aos borbotões, e me aplaudindo. "Está vendo? Sucesso é isso." E toda vez o palhaço olha para mim com cara de choro, como se dissesse que não devo esquecer que ele tem mulher e cinco filhos.
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