quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Da rua

Da rua vem a algazarra dos alunos do Ágape. Alegria do recreio, vozes alimentadas com flocos de cereais. Nunca mais soarão assim, límpidas. Cantam a manhã, o futuro, a esperança. Mas já, em cada coração, se insinua o vírus do amor e as gargantas o cantarão, e se gastarão em súplicas. As vozes engrossarão, as vogais irão perdendo a limpidez e soarão como consoantes de palavras alemãs longas como suplícios. Onde há um sinal de vida, o amor monta sua tocaia. Como sucuri, ele apanhará cada um desses meninos, cada uma dessas garotas, e os espremerá, até privá-los de vida e de voz. Mas quem chorará por esses garotos? Quando morrerem, estarão velhos, não se parecerão nem um pouco com o que são hoje. Morrerão secos. Toda sua seiva terá sido consumida pelo amor e, se lhes perguntarem, no último dia, se terá valido a pena, dirão que sim, e essas três letras cairão dos seus lábios como pedras.

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