quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Futuro

Talvez eu esteja destinado a acordar às sete, todo dia, ao chamado das irmãs de caridade. Talvez haja alegria em meu rosto quando me levarem para tomar um café com bolo de fubá e ir à missa na capela do asilo. Talvez, como os outros velhinhos, eu encontre finalmente Deus e Ele seja melhor do que eu sempre imaginei. Talvez, numa manhã ou em outra, haja sol e possamos caminhar pelo gramado e sentar-nos ao sol, em bancos oferecidos pela empresa tal. Talvez, trocando reminiscências, me digam que eu fui mais feliz do que qualquer outro velhinho dali, e talvez eu acredite. Talvez, sem a agitação do mundo, eu descubra enfim o truque de viver e, conversando com as flores do jardim cuidado pelas irmãs, eu encontre as interlocutoras ideais. Talvez seja esse o futuro bem-aventurado que desde a adolescência eu venho sonhando, embalado pela poesia. Talvez haja gatos ali, um para cada velhote, e venhamos a conhecer o nome das nuvens brancas e elas nos chamem carinhosamente de seu Altair, seu Jonas, seu Raul.

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