quinta-feira, 6 de setembro de 2012
A pão e água
Eu me deixei acorrentar e me entreguei ao Amor. Na minha cela, à qual às vezes por compaixão o Amor ia, eu, por automortificação e para merecê-lo, passei a viver de pão e água. As visões que a sede e a fome me propiciavam tinham tal beleza que eu me deleitava com os êxtases, que chegavam a durar dias. Nessa época o Amor, por merecimento meu, marcou com ferro em brasa, em minhas costas, a chaga do seu domínio. Faz uma semana isso, e nunca mais passou por meus lábios nem uma gota de água nem um farelo de pão. Minha boca hoje vive para cantar a glória do Amor e em minhas costas a chaga se transformou numa rosa que à noite espalha em minha cela, e nas celas vizinhas, uma fragrância santificada.
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