segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A mala

A mala que eu levava à escola era imensa, daquelas usadas por mascates. Como foi parar em casa eu nunca soube. Ali eu enfiava tudo - cadernos, livros, dicionários, atlas descomunais, maiores que o mundo, estojos, réguas, canetas, lápis. Que peso eu carregava diariamente não sei, mas me custava muito carregá-lo. E não era só um desconforto físico - eu precisava também de muita paciência para tolerar o escárnio e os apelidos que me davam: Doutor Sabe-Tudo, Sabichão, Einstein, Enciclopédia Ambulante. Na época, havia uma expressão para designar homens com preparo cultural superior à média: dizia-se que eram pessoas com muita bagagem. Toda vez que eu olhava para a malona cheia daquilo que eu chamava orgulhosamente de compêndios, eu me sentia um desses seres especiais. Se fosse hoje, talvez me dessem o apelido de google. Ficaram muitas recordações desse tempo. A mais engraçada talvez seja a da manhã em que o diretor entrou em minha sala de aula e perguntou se tínhamos visto o professor de matemática. Esse professor era baixo, muito baixo, e foi certamente por isso que um daqueles gozadores que existem em todas as classes apontou para a minha mala prestes a estourar e disse, provocando uma explosão de gargalhadas: "Ei, não é ele que está aí dentro, não?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário