"Se existem anjos
acho que não leem
nossos romances
sobre esperanças frustradas.
Receio que - infelizmente -
nem os nossos versos
reclamando do mundo.
Os espasmos e os gritos
de nossas peças teatrais
devem - suspeito -
impacientá-los.
No intervalo de seus afazeres
angélicos, isto é, não humanos,
assistem antes
às nossas comediazinhas
do tempo do cinema mudo.
Aos que se lamentam,
rasgam as vestes
e rangem o dentes,
preferem - penso eu -
aquele pobre-diabo
que agarrra o que se afoga pela peruca
ou faminto devora
o cordão do sapato.
Acima da cintura peitilho e pretensão,
abaixo um camundongo assustado
na perna da calça.
Ó sim,
isso é que é diversão de verdade.
A perseguição em círculos
vira fuga à frente do que foge.
A luz no fim do túnel
se transforma num olho de tigre.
Cem catástrofes
são cem alegres piruetas
sobre cem precipícios.
Se existem anjos,
deveriam - assim espero -
estar convencidos
dessa alegria que oscila no terror
e nem sequer grita socorro socorro
porque tudo se passa em silêncio.
Ouso até imaginar
que aplaudem com as asas
e que de seus olhos caem lágrimas
pelo menos de riso."
(Do livro Poemas, tradução de Regina Przybycien, publicado pela Companhia das Letras.)
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