domingo, 6 de janeiro de 2013

Um trecho de José Donoso

"E Archibaldo caiu sobre esse corpo doce e luxuriante e suave que tinha estado a cheirar e a acariciar e a saborear, penetrando-o até essa fundura que nunca suspeitava encerrar em si a não ser quando a penetração reiterava a sua consciência dela, muito mais além do botãozinho mas incluindo-o, respondendo ao seu lento ritmo vertical com um circular que o complementava apoiando-o e agregando-lhe outro significado ao unir-se a ele, ambas as bocas partilhando o mesmo alento, ambos os suores o mesmo suor, as anatomias diferentes transformadas por esse instante num só animal que procurava dois prazeres distintos que fossem um só, uma besta carinhosa mas frenética, embutida pelo arco das coxas de Blanca em redor das ancas de Archibaldo, coxas que o apertavam, que o apressavam e lhe exigiam o delírio até fazê-lo sentir que estava prestes a estalar no momento em que ela o quisesse depois de um século de prazer que se ia prolongando, a boca dele nessa cabeleira que não permitiria que ela cortasse porque ele lho pediria, sua orelha rosada toda dentro da sua boca com sua língua que a saboreava, sua língua, sim, esgaravatando, remexendo, sim, ali, sim, até que Blanca, enlouquecida, murmurou: - Agora... E ele assentiu: - Agora..."

(Do livro O misterioso desaparecimento da marquesinha de Loria, tradução de Maria Filomena Boavida e Alfredo Tinoco, publicado pela Difel - Difusão Editorial.)

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