"Então, de repente, começávamos a nos beijar, beijos que se prolongavam por muito tempo antes do amor e, enquanto nos amávamos, sentíamos todo o peso da virgindade perdida, da vergonha e da culpa - que percebíamos um em cada movimento do outro. Mas eu via também nos olhos de Füsun o prazer que ela sentia no sexo, seu espanto cada vez maior ao descobrir deleites sobre os quais já vinha pensando havia algum tempo. Lembrava um aventureiro dos velhos tempos que, ao final de anos sonhando com um continente lendário, parte para além-mar e, depois de atravessar oceanos, sofrer mil provações e derramar algum sangue, finalmente pisa em suas terras e saúda cada árvore, cada pedra, cada criatura, com admiração e encantamento, sentindo a mesma exaltação no perfume de cada flor e em cada fruto que leva à boca, explorando cada uma dessas novidades com uma curiosidade prudente e deslumbrada."
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"Na verdade, ninguém reconhece o momento mais feliz da sua vida no instante em que o vive. Pode ser que, num momento de grande alegria, alguém possa acreditar sinceramente que está vivendo esse instante de ouro "agora", mesmo já tendo vivido antes um momento igual, mas, pense o que pensar, numa parte de seu coração ainda acreditará na possibilidade de um momento futuro mais feliz. Porque ninguém, especialmente alguém que ainda seja jovem, consegue seguir em frente com a convicção de que as coisas só podem piorar: se uma pessoa sente uma felicidade que a leve a pensar que se encontra no momento mais feliz da sua vida, terá sempre a esperança de que seu futuro venha a ser igualmente lindo, ou ainda mais."
(Do livro O museu da inocência, traduzido por Sergio Flaksman, piublicado pela Companhia das Letras.)
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