sábado, 16 de fevereiro de 2013
Madrugada
Esta deveria ser uma hora de trégua. Nada na rua se move, tudo dormiu, e você continua sufocado pelas batidas do seu coração, essas mesmas que tanto mal já lhe fizeram. O homem com sentimentos é um homem fraco, um ser que já nasceu desaparelhado para a vida. Chora porque sofre e, no entanto, se a dor lhe dá um descanso, ele a procura e é capaz de ajoelhar-se para que ela volte. Não vive mais sem ela. Não há clínicas para onde possam ser encaminhados os doentes do amor e, se houvesse, eles se recusariam a frequentá-las. A esta hora eles ainda reviram gavetas, vasculham memórias, procuram farpas que firam ainda mais fundamente o coração. Têm medo de um tempo em que não sofrerão mais essa angústia. Receiam o dia em que possam não sentir mais essa angústia, e gostariam de gritar, agora, e acabar de vez com a incômoda fama de homens sensatos. Como seria bom berrar, acordar toda a vizinhança, todos os quarteirões, toda a cidade. Gritar amor, amor, amor, até estourar os pulmões. Fazer um escândalo e dizer à polícia "sim, sou viciado, sou doente, arranjem-me uma dose, pelo amor que vocês possam ter aos seus filhos. Uma dose de amor, um papelote, um cheiro, qualquer coisa. Ajudem-me, pelo amor de Deus ou do Diabo."
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