quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 28 - Obscenidades do ofício
Não sei como é hoje, mas a revisão tinha, no meu tempo, uma série de normas para facilitar o trabalho. Havia uma nomenclatura que talvez já tenha se perdido, agora que a revisão, em toda parte, é pouco mais que uma memória. Vejamos. Matar uma prova era fazer a leitura sozinho, sem acompanhante. Era uma exceção. O normal e recomendável era um revisor ler a prova, em voz alta, enquanto outro, com o original, ia apontando possíveis divergências. Quem não tivesse intimidade com os gestos e os jargões ficava surpreso, espantado até. Quando apareciam reticências entre parênteses, o revisor que lia em voz alta dizia: "Pingou nas coxas." Se fosse uma exclamação seguida de reticências, era "pau pingou". O ponto de interrogação era "gancho". E, quando apareciam aspas, o revisor que lia a prova dava duas vibrantes batidas na mesa para indicar a abertura e mais duas para assinalar o fechamento. Mas o que causava mais impacto entre os não iniciados era o aparecimento, no texto, de um ponto de exclamação entre parênteses, quando então o revisor dizia: "Pau nas coxas." E havia casos que obrigavam o revisor a dizer uma expressão que parecia referir-se a uma bacanal: "Três paus nas coxas." No tempo em que trabalhei na revista Visão, quando se checavam as emendas, criou-se um engenhoso sistema para indicar correções nas últimas linhas do texto, que não fossem nem a antepenúltima, nem a penúltima, nem a última. A quarta linha de baixo para cima era a quartúltima, a quinta era a quintúltima, e assim por diante. Na Visão trabalhei com um revisor, Manoel Bezerra Júnior, que galhofeiramente introduzia algumas letras no meio das palavras, produzindo um efeito hilariante. Para se ter ideia, reproduzo alguns exemplos: Piracicaralhaba, Caralhatanduva, Caralhambuci. No meio da década de 1970, a primeira revisora admitida no jornal levou os revisores a assinalar em voz baixa certas expressões. Mas isso só no começo.
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