segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Quando chega o momento

Na vida, como nas festas, chega aquele momento em que os risos vão se atenuando, os sons da pequena orquestra não pairam mais como bolhas coloridas de sabão e os convidados começam a se olhar, procurando uns no rosto dos outros a promessa de magia que os levou até ali e que se dissipa em cada um deles. A brisa, que mal tocava as cortinas dos janelões escancarados, se põe agora a sacudi-las, como se as avisassem da tempestade próxima. Os anfitriões empenham-se em renovar em todos o entusiasmo inicial, mas a melancolia já se imiscui no salão e sutilmente vai conquistando mais espaço. O pianista está triste, os dois violinistas também, e a orquestra toda esqueceu os acordes triunfais da primeira hora. Uma trovoada longínqua faz tremer por um instante as luzes, e o vento frio que substituiu a brisa obriga as mulheres a apanhar seus casacos. Os colares, as pérolas e os belos colos já não se expõem e vai entrando no salão um desalento que se apossa de todas as alegrias, e estas sentem já sobre elas a mão gelada da lembrança, que as recolhe com cuidado para não amassá-las e poder colá-las depois em seu álbum. Nas festas, esse é o momento em que todos esperam o primeiro casal se despedir para irem também. Na vida, é o momento de fechar os olhos e os ouvidos, esquecer-se das luzes e dos sons e preparar-se para o silêncio e para a escuridão.

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