domingo, 21 de abril de 2013
O homem falou...
... falou. Eram palavras estranhas, que ia lendo de um bloquinho. Os seis primeiros que se reuniram para ouvi-lo, porque o cinema anda caro e o teatro inacessível, pensaram ouvi-lo dizer "afeto". Não era um termo que os atraísse muito, mas foram ficando, e a eles se juntaram mais quinze ou vinte. Notaram, por uma rima de "coração" e "paixão", que eram versos o que ele lia, presumivelmente de amor. Sua dicção não era boa e as palavras pareciam estar ficando cada vez mais complicadas. Deixaram-no todos, então, menos um garoto de uns quinze anos, que se aproximou timidamente, pediu licença para abraçá-lo e, abraçando-o, disse obrigado. O homem gostaria de perguntar se ele gostava de poesia, mas uma chuva repentina, trazida por um vento furioso, caiu sobre os dois como um castigo. Correu cada um para um lado, e nem o homem pôde saber se o menino apreciava poemas nem o menino conseguiu descobrir em que templo ele pregava.
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