quarta-feira, 19 de junho de 2013
Quase hora...
... de ir para a conversa diária com minhas alfaces. Cartola, se as conhecesse, teria inveja, eu presumo. Suas rosas não falavam, apenas exalavam o perfume da mulher amada. Já minhas alfaces andam cada dia mais tagarelas. Falam de tudo. Não há assunto que rejeitem. Mas, conhecendo minha predileção, têm me perguntado muito sobre o amor e vêm lamentando minha tristeza. Já lhes expliquei que a tristeza deixada em mim pelo amor é só outra forma da antiga alegria que ele me proporcionou, e poderia chamar-se também lembrança. Acho que não entenderam muito bem, porque o amor entre as alfaces há de ter suas peculiaridades. Mas sempre puxam o assunto - e as alfaces mais novas, e naturalmente mais pudicas, chegam a ruborizar-se. Imagino que algum outro freguês do sacolão tenha dito alguma inconveniência a elas. Foi bom lembrar-me disso. Direi hoje a elas que o amor, mesmo que quisesse ser diferente, não poderia ser senão limpo e puro. Como pura é esta manhã, em que, sei lá se por alguma intuição ou por ingenuidade, digo bom dia como se ele pudesse mesmo corresponder ao adjetivo.
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