sábado, 15 de janeiro de 2011

A flor

Precisa da loucura
suplica por ela
e para merecê-la
faz o que sabe
que os loucos fazem

Rasga o peito
unha o rosto
vai à janela
e grita obscenidades
para o sol
para a lua
para as estrelas
aquelas putinhas escrotas
e desafia Deus
aquele covarde

Alguns vizinhos
já se reuniram
parentes também
mas não o acham
digno ainda
do manicômio
e da camisa de força
pela qual ele anseia

E ele continua
plantando
a loucura
desde o primeiro
vagido da manhã
e a rega à tarde
e à noite ainda
está esperando
que ela floresça
que se mostre enfim
e que o faça afugentar
o mundo com sua baba
e derrubar com sua ira
o sol a lua as estrelas
e Deus da sua toca
nas nuvens

Cuida da loucura
e dela cuidará
até o dia em que ela
o acolherá no colo
e lhe dirá filhinho
pode dormir agora
que não haverá mais
tristeza ou dor
mentira ou verdade
consciência
nem sanidade

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