Morrer como um peixe
que ninguém há de lamentar
um desses bem pequenos
que não desfalcam um cardume
nem fazem falta ao mar
Morrer e deixar-me levar
ao critério dos ventos e das ondas
expondo a derradeira prata
aos cobiçosos olhos do sol
e flutuar flutuar
Não incitar mais
os predadores
nem a fome das gaivotas
nem as redes
dos pescadores
Flutuar flutuar
conservado em sal
talvez semanas
e viajar a última viagem
sem saber se ali é Marrocos
e se acolá é Gibraltar
Flutuar assim
e milagrosamente intacto
um dia a uma praia chegar
onde um menino
me recolherá no seu baldinho
lastimará minha sorte
e com mãos carinhosas
e a face de lágrimas cheia
me cobrirá enfim de areia
para que eu possa descansar
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
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