quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Gilete

Teres dado tudo
o sangue
a alma
teres penado
a lenta insônia das madrugadas
pingando pingando
e a ensolarada infinitude
dos dias
durando durando

Teres chamado Deus
alto bem alto
teres gritado Deus
teres mordido o lábio
até sangrar
para não gritar mais alto
Deus Deus Deus

Teres te deitado na cama
na manhã escolhida
e cedendo afinal ao impulso
teres rasgado o pulso
e teres gritado ainda
Deus Deus Deus
e mais aquele nome
aquele nome

E saberes que acharam pouco
e saberes que acharam prosaico
e no hospital
para onde te levaram
como levam à praia
aqueles que
não conseguiram se afogar
achares também
e saberes e lamentares
que foi pouco mesmo
e foi prosaico
e foi vulgar
e veres como
é de desprezo o olhar
com que são olhados
aqueles que não sabem
nem viver
nem se matar

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