Todos os dias
a ampulheta faz escorrer
sua areia
sobre a memória resignada
E reminiscências raras
e simples lembranças
tesouros de faiscante ouro
ouropéis berloques bijuterias
vão sendo assim
cobertos pelo esquecimento
Todos os dias
a ampulheta laboriosa
sem se importar
com o que apaga
vai apagando
tudo que pode
E todos os dias
ela assim sufoca
manhãs de sol na praia
primeiros sonhos
anseios
gatos queridos
brinquedos amados
e porque tudo é justo
e imparcial nesse apagar
apaga também
aflições e agonias
Indefesa
como um carneiro entre lobos
a memória vai-se deixando apagar
porque esse é o desígnio divino
e o miserável destino humano
Ela reserva no entanto
sua última revolta
seu último esforço
a derradeira energia
para o momento em que a areia
vier dizer-lhe
que assim como chega
a hora de todas as coisas
chegou também a hora do amor
Nesse momento
nesse dia a memória
arreganhará os dentes
e travará
sua última batalha
porque morto o amor
tudo mais
tudo
morto estará
domingo, 23 de janeiro de 2011
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