Sobreviverei
Aprendi a esquivar-me
da convidativa vertigem
do metrô e daquela voz
insistindo
pule pule
Sobreviverei
Aprendi a passar
pelos amáveis viadutos
desta cidade
e a fechar os ouvidos
quando a voz me sugere
salte salte
Sobreviverei
Aprendi a amarrar-me
a acorrentar-me
a rasgar as palmas das mãos
com as unhas
a dilacerar os lábios
com os dentes
a clamar por Deus
Deus Deus
Aprendi a salvar-me
nessas noites
que me atacam como feras
duram como séculos
e quando relutantes se vão
deixam minha cama
afogada em suor
e lágrimas
Sobreviverei
Aprendi a me defender
das cordas das facas das giletes
das incitações assassinas
que assombravam ana cristina
da melancolia eslava de clarice
e dos poemas de sylvia plath
Sobreviverei
tanto quanto
pode um homem
tentado pela Morte
e esquecido pela Vida
simular que não foi chamado
e seguir surdo
e sobreviver.
sábado, 22 de janeiro de 2011
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