sábado, 22 de janeiro de 2011

O baile

Ela me pôs na cama
e deu-me um remedinho

Disse toma tudo tio
toma tudo para dormir direitinho
e ficou olhando
para ver se nenhuma gota
ficava na colher

Depois trancou a porta
para minha segurança
explicou
e disse que se precisasse
era só chamar

E eu precisei
e eu precisava
tanto de algo
de um gesto
de uma palavra
de uma mentira generosa
que chamei

Primeiro baixo
depois alto
chamei
e gritei depois muito
e gritei
gritei

Ela não veio

De algum lugar
na noite morna
e alcoviteira
chegavam os sons
de uma frenética música

E eu chamei
chamei
mas havia um pistom
um saxofone talvez
que ia afogando meus gritos
e havia sobretudo
um riso rouco
ah um riso rouco
que eu tão bem conhecia
um riso que estraçalhava
minha alma
e sufocava minha boca
com o travesseiro

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