Ela me pôs na cama
e deu-me um remedinho
Disse toma tudo tio
toma tudo para dormir direitinho
e ficou olhando
para ver se nenhuma gota
ficava na colher
Depois trancou a porta
para minha segurança
explicou
e disse que se precisasse
era só chamar
E eu precisei
e eu precisava
tanto de algo
de um gesto
de uma palavra
de uma mentira generosa
que chamei
Primeiro baixo
depois alto
chamei
e gritei depois muito
e gritei
gritei
Ela não veio
De algum lugar
na noite morna
e alcoviteira
chegavam os sons
de uma frenética música
E eu chamei
chamei
mas havia um pistom
um saxofone talvez
que ia afogando meus gritos
e havia sobretudo
um riso rouco
ah um riso rouco
que eu tão bem conhecia
um riso que estraçalhava
minha alma
e sufocava minha boca
com o travesseiro
sábado, 22 de janeiro de 2011
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