sábado, 15 de janeiro de 2011
As duas palavras
Escreveu uma carta na qual o amor que por um ano o fizera viver e o matara brilhava ora rubro como uma rosa e ora cintilava como a assassina prata de um punhal. Chorou enquanto escrevia, e sorriu também em algumas frases. Antes de assinar, sentiu a mão tremer ao traçar as cinco letras: adeus. Vacilou. Para um amor que havia sido tão apaixonadamente venturoso e atormentado, era muito frio aquele final. Escreveu então bendita. Hesitou de novo e, riscando bendita, escreveu maldita, que imediatamente riscou também. Ficou uns minutos reforçando a tinta em cima das duas palavras, para que a mulher não pudesse lê-las de forma nenhuma. Ia colocar a carta no envelope quando novo impulso o levou a escrever, agora com total convicção, uma ao lado da outra, bem nítidas, as duas palavras que tão expressivamente resumiam seu sentimento. Imaginou que a mulher, se lhe enviasse uma carta, escreveria o mesmo.
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