quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Formação de elenco

O  Destino parece ter desistido de nós. Sabe que não lhe serviremos para nada. Imaginou grandes histórias que protagonizaríamos, num tempo em que havia ainda força em nossos braços e nossos olhos exprimiam tanto ternura quanto ódio. Teríamos sido talvez assassinos convincentes ou vítimas que merecessem ser choradas. Poderíamos também ser heróis, quem sabe. Faltou-nos alguma coisa, faltou-nos tudo, não fomos nada. Talvez, se o Destino quiser ser ainda generoso, possamos, com nossos braços agora fracos e nossos olhos enevoados pela catarata, curvar-nos e servir chá para elegantes damas na confeitaria, enquanto a cena principal se desenvolve, ou ficar no sofá com o gato no colo, sem dizer uma palavra nos três atos daqueles vaudeviles em que nobres e serviçais ficam entrando e saindo de armários e escondendo-se embaixo de camas, até que se esgotem todos os nomes da lista telefônica. Que podem os velhos, afinal, almejar se não a honra de serem adornos de sofá?

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